quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

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25 de dezembro de 2024

As pessoas, e em particular eu mesmo, têm a tendência de encontrar significados onde se menos espera. Em meio à sequência de eventos em sua esmagadora maioria repetitivos que nos vemos forçados a viver e reviver dia após dia, há um ou outro que foge da rotina – a humanidade ainda não domesticou o acaso. E nesses intervalos de tempo, nesses acontecimentos súbitos que nos parecem transportar para outro mundo (apesar de, na verdade, reafirmarem que a natureza é assim, aleatória, para todas as espécies que dela vieram), procuramos um sentido, uma causa para aquilo. Embora a segunda seja palavra correta para a situação, o mesmo não pode ser dito da primeira. Como exemplo, posso dizer que todos os eventos do mês de dezembro foram causas, direta ou indiretamente, para que eu tivesse a ideia de escrever uma última vez no ano neste blog, no intuito de falar sobre os meus recém-completados 25 anos. Causaram, também, com que eu não tivesse o tempo (ou melhor, a energia) para fazê-lo no dia do meu aniversário, e fizeram com que eu me visse no dia do Natal, outro 25, com a disposição de trabalhar no texto mais uma vez. E então, encontramos o significado onde não há, criamos um propósito, adicionamos nossa marca registrada que é a "razão de ser": falemos, no dia 25, sobre os meus 25 anos, e também sobre o ano de 2025. Está aí meu presente para os leitores. Na escrita e na vida, a arte de fazer o acidente parecer premeditado é uma habilidade valiosa.

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Meu aniversário foi no dia 8.

Eu me lembro de quando criei o meu primeiro blog, quase um mês antes do meu aniversário de 11 anos. Naquele 8 de dezembro de 2010, eu ganhei um Playstation 3, dois controles e alguns jogos de presente. Lembro que fiquei jogando enquanto os convidados iam chegando em minha casa, vez ou outra algum primo ou amigo que se juntava a mim em frente à televisão. Já se foram 14 anos desse momento, e ainda que ele se desfoque um pouco mais a cada ano que se passa, eu ainda o tenho como uma das memórias mais felizes da minha vida. Eu sabia que estava tendo um dia incrível, passando do jeito que eu queria, fazendo o que eu queria. Foi um momento marcante, tanto que decidi, alguns dias antes do dia 8 deste ano, trazer o PS3 para a minha casa, com os jogos que eu jogava naquela época. Em grande medida, essa é a razão por eu ser tão apaixonado pelos anos 2000, época que me trouxe tantas boas lembranças.

Foto cortesia do blog do meu pai (do fundo do baú!)

Acho triste o fato de não conseguir me conectar mais com essa minha versão de anos atrás. Digo, não consigo me lembrar com clareza como era a minha vida, como eu pensava, como eu me sentia. As memórias mais "consolidadas", digamos assim, são apenas dos meus 14 anos em diante – não sem motivo, uma vez que essa parte da minha adolescência foi recheada de angústias e questões. Mas quem não teve problemas durante a puberdade? Enfim, hoje em dia tenho a impressão de que só consigo reter o estado mental do agora, de que a memória é só um story do Instagram, que se esvai depois de 24 horas, quando na verdade eu gostaria de estar colecionando um álbum com os melhores (e piores) momentos de agora e também do passado. Será que é isso, então, que significa envelhecer? Atingir o limite da memória, e ter que ir apagando anos passados para guardar novas coisas? Ressignificar, embelezar, romantizar a infância e a adolescência? Já que a vida adulta se mostra pouco colorida e recheada de momentos de "piloto automático" que nos fazem sentir como se a semana passou voando, e de repente é sexta sábado domingo e mais um mês foi embora, eu acabei de acordar e já é dezembro... e ainda assim, repetir o mesmo processo quando se chegar nos 30, sendo os 20 os novos 15, et cetera et cetera.

Qual é o limite da nostalgia?

Eu tenho de admitir (para quase ninguém, porque todos já devem saber) que, por qualquer motivo que seja, sempre fui inclinado a ver a vida com olhos negativos. Em muitos casos, tenho uma atitude fatalista e absurdista em relação à vida, porque sinceramente é o que enxergo no mundo. Infelizmente não consigo ser tão positivo quanto Camus. Sou frequentemente cético com as coisas e com as pessoas, e há dias em que é difícil me aturar. Porém, algumas pessoas são capazes de me fazer olhar a vida com outros olhos. Pessoas que, por qualquer motivo que seja, veem em mim aquilo que eu talvez não consiga ver em mim mesmo, e me conseguem amolecer o coração. E são essas que eu quero perto de mim no meu aniversário.

Por conta disso, tenho tentado ser mais gentil comigo mesmo. Abraçado alguns sentimentos, pensamentos e contradições com os quais me deparo, sem muitos julgá-los. Tenho feito mais coisas para me agradar, me permitido comprar coisas que gostaria de ter, experimentar coisas novas. Até a escrita é um ato de amor próprio. Eu faço muito mais para me sentir feliz do que por qualquer outro motivo. Espero que o carinho que ponho nas minhas palavras atinja alguns de vocês e os faça bem, também. A felicidade é melhor quando compartilhada, já dizia o personagem de um filme muito querido por mim. Sou muito grato à minha criança interior, que nunca morreu, e me fez ser essa pessoa que, apesar do estresse e das reclamações em momentos de crise, consegue enxergar beleza em qualquer coisa. Essa criança que me deu e continua dando uma enorme criatividade e ideias que parecem não acabar... às vezes até demais para uma pessoa só! Talvez o Gabriel de semana passada não esteja orgulhoso do Gabriel de hoje. Mas o de 2010 com certeza está. Viajei sozinho para outro país, encontrei amigos inúmeras vezes, descobri novos jogos, novas músicas. Quantas coisas escrevi! Embora eu não tenha gostado tanto dos meus últimos aniversários, começo a ver o dia 8 como um eterno e constante lembrete de quem sou, e por que preciso continuar fazendo aquilo que me faz sentir vivo. Uma data para celebrar as pequenas e as grandes conquistas. Lembrar do que fiz e pensar no que poderei fazer até a próxima vez.

Dizem que depois dos 25 a gente sente uma mudança profunda no modo de pensar e de agir. Tem essa questão fisiológica, de que o cérebro está 100% desenvolvido após essa idade. Algo assim, não sei exatamente. Tem também o fato de que estamos mais perto dos 30 do que dos 20 a partir desse momento, e para algumas pessoas (contando comigo) isso pode ser um motivo para ansiedade ou, pelo menos, reflexão. Eu ainda não senti nada nesse sentido, mas tenho certeza de que haverá mudanças, e que muito provavelmente eu só vá percebê-las muito depois. Em algum dia muito distante no passado toda a terra da Terra estava junta em um único continente. E agora, alguns bocadinhos de anos depois, estamos divididos em seis partes, cinco das quais são habitadas, a milhares de quilômetros uns dos outros. Bom, a vida continua, em Pangeia e na América do Sul. Aos 11 anos e aos 25. 

Termino esta parte com um trecho do meu diário, de 8 de dezembro de 2023: "Hoje é o meu aniversário. Agora eu tenho 24 anos. A idade perdeu o sentido para mim. O significa ter 24 anos? O que significa não ter 23? Eu não sei."

08/12/2023: o que é ter 24 anos? Talvez eu nunca saiba mais...



(20)25

Como falei no início, nós nos achamos capazes de dominar a natureza e fazer dela uma agenda pessoal, confortavelmente organizada em 12 meses, 52 semanas, 365 dias, entre outros compartimentos – e fazemos isso enquanto não percebemos que a rotina é quem nos faz de escravos, um cachorro corre atrás do próprio rabo e nunca o alcança; a repetição à qual nos sujeitamos é coisa de mesma ordem.

Se me perguntassem, lá em 2019, um dos melhores anos do meu histórico recente, onde eu me vejo em cinco anos, eu nunca poderia acertar nem se me dessem dez tentativas. Eu diria, "eu me vejo formado, trabalhando em alguma coisa na minha área de computação, e se tudo der certo, no Canadá". Cinco anos depois, nenhum desses itens é verdade. Não estou formado, não estou trabalhando na minha área, e não estou no Canadá.

Eu lembro quando estava no final do período de experiência no banco, em agosto de 2022. O gerente de serviços, meu avaliador junto com o gerente geral e mais outro gerente, hoje em dia todos meus amigos, disse: "eu quero saber onde você se vê daqui a cinco anos. Porque se você não se vê fazendo esse tipo de coisa, pode ser que seja melhor pra você não ficar por aqui". Ele não falou isso na intenção de me desestimular ou intimidar, e eu sabia disso. O que ele queria me dizer era que ser bancário, em particular um concursado, significa ter um plano de carreira de longo prazo, em que você fica alguns anos numa função, sobe um cargo, fica um tempo, talvez tenha que ser despromovido para ficar mais perto da família, e assim vai. E eu me lembro de, por uns poucos segundos antes de responder, enquanto os colegas olhavam para mim em silêncio, ver a minha vida recente passando pela minha cabeça, e como eu de fato não tinha resposta para aquela pergunta. Parecia que todas as coisas estavam acontecendo por acaso, sem planejamento; eu nunca tinha pensado em prestar o concurso até minha mãe me incentivar, nunca tinha pensado seriamente em aceitar o cargo (porque não imaginava que iria passar na prova), não estava na minha cabeça que eu tivesse que, de repente, mudar de cidade compulsoriamente. E no entanto, ali estava eu. A vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo planos.

Eu não lembro exatamente o que falei. Deve ter sido um misto de sinceridade e "profissionalismo", isto é, fingir o suficiente para demonstrar que você tem as coisas sob controle, quando na verdade não é o caso. E desde então, tudo o mais tem seguido o mesmo padrão, mais ou menos: sou eu mesmo quem quero isso, ou é mais um desdobramento natural do que já era para acontecer? Sou eu colocando a peça que eu quero no quebra-cabeças, ou é simplesmente a peça que falta para completar uma imagem que eu não decidi replicar? Até que ponto eu devo continuar me mantendo naquilo que tenho para "ter depois o que eu quero"? E o que é que eu quero, finalmente?

A historinha pode servir de reflexão para alguns, mas é também um jeito de dizer que não tenho planos grandes para 2025, porque já aprendi que não posso fazê-los (e quando os faço, acabo não os cumprindo, então dá na mesma). Eu só voltei a morar em Aracaju por puro acaso de abrirem uma nova agência na cidade, e da mesma forma pode haver outra mudança inesperada nesse sentido. Diz-se no xadrez de que é melhor jogar com um plano ruim em mente do que jogar sem plano nenhum. Talvez isso mude com o tempo, mas no momento não tenho grandes objetivos a cumprir nesse ano que vem. Os pequenos, ainda tenho: o blog, que pretendo continuar; a literatura que venho negligenciando há tempos, tanto como leitor quanto como escritor; meu tênis semanal, um dos melhores hábitos adquiridos em 2024... tudo isso irá, a priori, continuar na minha vida. E das coisas novas, há uma que gostaria de me dedicar um pouco mais, da qual falarei em outra oportunidade: a minha "carreira" como DJ. Sim, mais um lado da minha vida surgiu nesse ano. Mas como disse, papo para outra hora.

O dia está acabando, assim como o ano, e também este texto. Acho que falei tudo que tinha para falar, por agora. É possível que eu ainda faça uma retrospectiva deste ano que passou, mas provavelmente será um post do próximo ano. Por fim, gostaria de agradecer aos leitores, aos novos e aos antigos, por mais um ano deste blog. Obrigado por acompanharem o que faço já há seis anos, entre idas e vindas. A todos, um feliz Natal, e caso não nos encontremos até o dia 31, um 2025 de novos eventos e novos significados.

Com carinho,
Gabriel Cardoso




Um comentário:

  1. Que texto lindo.. Feliz em ver sua evolução tanto profissional quanto pessoal.. A VIDA é pra ser VIVIDA... Nós fazemos planos, mas DEUS é quem os concretiza ou "recalcula nossa rota", para que tenhamos O QUE NECESSITAMOS...

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