O Lobo de Wall Street
Ano: 2013
Gênero: Drama, crime
Direção: Martin Scorsese
Duração: 180 min (3h00)
Gênero: Drama, crime
Direção: Martin Scorsese
Duração: 180 min (3h00)
Sinopse
Um corretor de ações de Nova Iorque se recusa a cooperar com uma investigação envolvendo fraude e corrupção em Wall Street, o mundo bancário corporativo e infiltração da máfia. Baseado na autobiografia de Jordan Belfort. [Traduzida do Letterboxd]
Crítica
As resenhas de filmes estão ficando cada vez mais interessantes por aqui. Como foi o caso com Angel’s Egg, também tenho um pouco a acrescentar ao assunto além da crítica propriamente dita. Mas uma coisa de cada vez. Nesse primeiro post, vou falar dos aspectos inerentes ao próprio filme, com os quais você pode decidir se é algo que gostaria de assistir ou não. Numa postagem futura, adentramos um pouco mais nos temas abordados na obra (com spoilers, claro, como já é de praxe).
Se você chegou até aqui buscando ativamente uma resenha do filme, então é provável que saiba o básico do cinema e, por isso, concorde comigo quando digo que Martin Scorsese dispensa apresentações. Ele é simplesmente um dos diretores mais influentes de sua época, sendo parte do seu recheado portfólio filmes como Taxi Driver (1976), Ilha do Medo (2010), e mais recentemente O Irlandês (2019). Aos 82 anos, ele já reservou sua cadeira na história do cinema e seu trabalho tem uma nítida marca registrada e estilo característicos — alguns diriam até em demasia, beirando a replicação de temas e motes narrativos. O Lobo de Wall Street não é diferente: uma jornada de três horas de duração, na qual acompanhamos a vida de Jordan Belfort, um jovem de 22 anos recém-chegado a Nova Iorque que busca uma oportunidade no sempre caótico e nem sempre ético mercado de ações. Interpretado por Leonardo DiCaprio, ator recorrente na filmografia de Scorsese, vemos seus primórdios, trabalhando como reles assessor numa conceituada corretora de ações, provendo para sua esposa, até adquirir a certificação apropriada e utilizar seu talento ímpar na arte da venda e da persuasão para tomar passos mais, digamos, arrojados rumo a uma carreira em que o céu é o limite — o eufemismo está trabalhando duro para manter a crítica sem spoilers.
Nesse sentido, acho que a sinopse do Letterboxd não faz muito jus ao que realmente acontece, porém reconheço que é eficaz na medida em que esconde muito do que o filme faz questão de revelar nos momentos certos: a saber, os pontos de tensão em que tudo parece estar por um fio; o tênue equilíbrio entre os degraus cada vez mais altos e íngremes que Jordan galga rumo ao seu sucesso — cuja etapa final nunca parece estar à vista, afinal, sempre há mais a conquistar — e os obstáculos que aparecem em seu caminho, sejam eles frutos do acaso ou consequências diretas de suas ações “questionáveis”, para repetir o eufemismo. E, embora possamos questionar as ações dos personagens (devemos, na verdade), é inegavelmente prazeroso assistir a luta que eles travam para se manter no topo. O filme sabe muito bem lidar com situações de alto risco, em que um passo em falso pode levar tudo a perder. Ainda assim, as diferentes personalidades reagem de jeitos diferentes: uns batalham contra a impulsividade; outros possuem o dom do sangue frio. Para quem não está acostumado, 180 minutos podem assustar, mas garanto que o ritmo de O Lobo de Wall Street não deixa a peteca cair. O fato de ser a história de uma pessoa através dos anos também ajuda a manter o interesse, visto que constantemente vemos o desenvolvimento do caráter do protagonista, de seus companheiros e também dos antagonistas, e a evolução das relações entre eles com o tempo.
Jordan Belfort não seria o mesmo sem seu amigo e companheiro de negócios Donnie Azoff, brilhantemente interpretado por Jonah Hill. Se ele lhe parece familiar, talvez você o tenha visto na comédia Superbad (2007) e em Não Olhe Para Cima (2021), no qual também contracena com DiCaprio. Ele está muito bem neste filme e em muitos momentos rouba a cena. Também não seria uma crítica justa sem mencionar Margot Robbie e Matthew McConaughey, que, apesar de suas participações menores, trazem personagens muito interessantes com suas personalidades fortes e seus vícios — em especial este último.
Quanto aos demais aspectos do filme, não tenho nada a não ser os elogios costumeiros a tecer: a fotografia é impecável e a trilha sonora enriquece ainda mais as emoções pelas quais o filme nos guia: dúvida, orgulho (talvez permeado por culpa?), euforia, desespero, surpresa… assim como na vida real, a história é repletas de altos e baixos, acontecimentos imprevisíveis, é impossível prever o que virá a seguir — mesmo que, aparentemente, tudo esteja bem.
Se você gosta de filmes como Prenda-me se for Capaz (2002) — não por acaso estrelado também por DiCaprio —, em que parece ser uma história do tipo “eu contra o mundo”, um protagonista determinado e ambicioso enfrentando todo o “sistema” da sociedade, então O Lobo de Wall Street com certeza é para você. Não pense duas vezes antes de assisti-lo. Mais cedo do que pensa, você poderá se ver torcendo por alguém que, na vida real, você deveria repudiar. Acho que essa é a graça de filmes assim: eles invertem a perspectiva, e nos põem a ver o mundo a partir dos olhos de pessoas que, teoricamente, não deveríamos admirar ou ter como modelo. Eles nos mostram como alguns indivíduos podem ter uma visão egoísta, apática, ou simplesmente distorcida da realidade e das regras sociais — e mais importante que isso, eles nos lembram que nosso tão estimado senso de moralidade, nossos valores inegociáveis do que é certo e errado, podem estar mais suscetíveis às nossas emoções do que gostaríamos. Com isso, não quero dizer que O Lobo de Wall Street e companhia trazem, ou deveriam trazer, uma lição de moral. Pelo contrário: acho que o fato de narrarem mais do que julgarem os acontecimentos faz com que possamos ter uma experiência mais próxima daquilo que os personagens estariam pensando e sentindo, e por isso conseguimos fazer uma análise melhor e tirar conclusões mais acertadas do que estamos vendo.
Obrigado por ler esta crítica até aqui!
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