Ainda é o segundo dia do ano e já me vejo a redigir um novo conteúdo para o blog, para a minha companhia inseparável, que por tantas aventuras e por tantos desastres me acompanhou. Ainda que eu não saiba exatamente quando vá finalizar ou publicar este texto, parece que eu vim cedo desta vez. É relativo. Para quem está habituado em produzir lá para os dias vinte e tantos do mês, escrever ainda na primeira semana pode soar como maior comprometimento; ou, como outros podem notar, como a compensação da falta de material no mês anterior. O copo d'água está meio cheio, ou meio vazio, o excesso ou a falta estão nos olhos e não na realidade. Eu acredito que já está na hora de eu encher o resto do meu copo — ou beber o que há nele de vez.
Como escritor, eu frequentemente me encontro em situações contraditórias — meu senso de humor as consideraria engraçadas também. Parte do modo como enxergo a vida, e já mencionei isso algumas vezes por aqui, é crer que a partícula fundamental da felicidade são os momentos. Estou convicto de que são eles que constroem, pedacinho a pedacinho, a imagem final e completa de nossa memória, o retrato analógico e penosamente revelado do que foi nossa vida. Das mais variadas durações e de diversos graus de importância, os momentos a que me refiro são os intervalos de tempo dos quais nunca nos esquecemos, seja pela boa sensação que nos afaga a cabeça ou pelas lágrimas que cicatrizaram sobre nossas bochechas. Esses instantes que o tempo não apaga, que a rotina não empalidece, que os anos não devoram — são esses que nos definem, que moldam o modo como se enxerga e como se sente o mundo e as pessoas. Já faz alguns anos que sou um fiel adepto dessa ideia, e é aí onde está a ironia. Dia sim, dia não, eu recolho minhas memórias em uma escrivaninha imaginária e as fico admirando. Nessas horas, é inevitável questionar: que farei com elas?