sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Pós-créditos #6 — Não se Preocupe, Querida

Geralmente quando eu faço uma resenha de filme, duas coisas costumam ser verdade: eu escrevo pouco tempo depois de assistir e não vejo nenhuma outra opinião. O primeiro hábito eu tenho porque a motivação sempre é maior quando o filme está fresco na mente: as ideias estão mais claras, as impressões mais vívidas, e eu quase sempre perco o fio da meada quando passo muito tempo para escrever (não só as críticas, mas qualquer coisa de modo geral). A crescente pilha de publicações em rascunho não me deixa mentir. E quanto ao segundo hábito, é a maneira que encontrei de trazer do melhor jeito as minhas primeiras impressões, o que eu pude notar e deixar de notar por conta própria, além de também evitar "copiar" resenhas de outras pessoas. Dito isso, no Pós-créditos de hoje, iremos analisar um filme com uma premissa bem interessante e ambiciosa. Será que ele consegue entregar uma execução à altura? Vamos descobrir.

Não se Preocupe, Querida


Ficha técnica

Ano: 2022
Gênero: Suspense, Drama
Direção: Olivia Wilde
Duração: 123 min (2h03)

Sinopse

Uma dona de casa dos anos 50 morando com seu marido em uma comunidade experimental e utópica começa a temer que a glamourosa empresa para a qual ele trabalha possa estar escondendo segredos perturbadores. [Sinopse traduzida do site Letterboxd]

quinta-feira, 30 de junho de 2022

a baixa porém perceptível amplitude de um oceano em calmaria

 Faz muito tempo que não escrevo para o blog. Muito mesmo. E eu achando que esse seria o ano em que as postagens mensais engatariam. Outra vez, deixei passatempos para lá, livros que poderia ler, filmes que poderia assistir, textos que poderia (e deveria) ter escrito. Os planos que tinha foram facilmente substituídos por outros que as circunstâncias me impuseram. Na verdade, foram muito poucas as coisas que eu supunha sobre este ano que se tornaram realidade. A minha vida mudou tanto em tão pouco tempo que ainda estou processando o impacto do soco, o rosto começou a ficar dormente só agora. O jeito é esperar que o hematoma não seja muito grande.

Lembro-me de que o último texto teve muito a ver com o tema de identidade, e não me sinto particularmente feliz em informar que pouco progresso aconteceu de lá para cá. Ou, se houve, ainda não consta no sistema. Recentemente comecei a trabalhar em um banco, então as analogias estão calibradas conforme o mundo burocrático de procedimentos administrativos e contratos de entrelinhas intermináveis. Tentarei, porém, manter um grau aceitável de poesia na prosa; não quero que minhas frases fiquem tão inertes quanto os computadores quase inoperantes da minha agência. Eu sou um escritor tão bom quanto minha organização mental me permite ser; por isso mesmo é que já me desculpo de antemão pelas palavras despejadas ao acaso nisso que quero considerar um retorno.


domingo, 2 de janeiro de 2022

as mãos que seguram a fotografia

Ainda é o segundo dia do ano e já me vejo a redigir um novo conteúdo para o blog, para a minha companhia inseparável, que por tantas aventuras e por tantos desastres me acompanhou. Ainda que eu não saiba exatamente quando vá finalizar ou publicar este texto, parece que eu vim cedo desta vez. É relativo. Para quem está habituado em produzir lá para os dias vinte e tantos do mês, escrever ainda na primeira semana pode soar como maior comprometimento; ou, como outros podem notar, como a compensação da falta de material no mês anterior. O copo d'água está meio cheio, ou meio vazio, o excesso ou a falta estão nos olhos e não na realidade. Eu acredito que já está na hora de eu encher o resto do meu copo — ou beber o que há nele de vez.

Como escritor, eu frequentemente me encontro em situações contraditórias — meu senso de humor as consideraria engraçadas também. Parte do modo como enxergo a vida, e já mencionei isso algumas vezes por aqui, é crer que a partícula fundamental da felicidade são os momentos. Estou convicto de que são eles que constroem, pedacinho a pedacinho, a imagem final e completa de nossa memória, o retrato analógico e penosamente revelado do que foi nossa vida. Das mais variadas durações e de diversos graus de importância, os momentos a que me refiro são os intervalos de tempo dos quais nunca nos esquecemos, seja pela boa sensação que nos afaga a cabeça ou pelas lágrimas que cicatrizaram sobre nossas bochechas. Esses instantes que o tempo não apaga, que a rotina não empalidece, que os anos não devoram — são esses que nos definem, que moldam o modo como se enxerga e como se sente o mundo e as pessoas. Já faz alguns anos que sou um fiel adepto dessa ideia, e é aí onde está a ironia. Dia sim, dia não, eu recolho minhas memórias em uma escrivaninha imaginária e as fico admirando. Nessas horas, é inevitável questionar: que farei com elas?