Faults
Ficha técnica
Ano: 2014
Gênero: Thriller/Drama
Direção: Riley Stearns
Sinopse
Claire está sob a influência de uma nova e misteriosa seita chamada Faults. Desesperados para se reencontrarem com a filha, os pais de Claire recorrem a um dos principais experts em controle mental do mundo, Ansel Roth.
Crítica
Nota: 10/10
Faults, sem sombra de dúvidas, é um dos melhores filmes que eu vi este ano. Com certeza eu o colocarei na minha lista de filmes favoritos. O mais curioso é que eu o vi sem saber de nada além da própria sinopse. Eu estava atrás de filmes parecidos com O Convite — um thriller muito bom, por sinal — e acabei me deparando com este filme. Interessei-me pela temática de cultos e seitas e decidi vê-lo de madrugada. Não me arrependi nem por um segundo dos 89 minutos do longa. Ao se fazer a resenha de um filme como este, a cautela para filtrar o que se diz deve ser redobrada, porque eu acredito que a incrível experiência que tive veio justamente da falta de informação e de expectativa que tive, fazendo com que os mínimos detalhes tivessem uma importância bem maior do que se eu já tivesse visto o trailer, por exemplo. Dito isso, esta crítica será breve, mas tentarei ao máximo tecer meus elogios de forma pouco reveladora. Há muito o que se dizer, então vamos direto ao ponto.
Vale dizer que este filme foi a estreia de Riley Stearns no mundo dos longa-metragens, e definitivamente foi um início muito promissor. A atmosfera criada em Faults é bastante incomum e segue linhas parecidas com as do trabalho de Yorgos Lanthimos (diretor de The Lobster; você pode ler a crítica desse filme aqui), que foi de fato uma inspiração para Riley. A atuação não segue o paradigma comum ao qual estamos habituados a ver. As cores contribuem enormemente para a construção e provocação de uma constante sensação de estranheza e dubiedade: uma paleta despretensiosa, de poucas cores, constantemente puxando para tonalidades amarronzadas e amareladas, sugerindo uma pitada de sépia, denotando um ambiente manchado e pouco vívido.
O ponto mais forte desse filme, ao meu ver, é a sua inigualável capacidade de não apenas criar, mas também manter uma tensão excruciante e que não nos deixa em paz. Eu acredito firmemente que este foi o filme que mais soube, literalmente, prender o espectador numa pequeníssima caixa de certezas e suposições. Nada, absolutamente nada de relevante, é revelado no filme prematuramente, o suspense é potencializado às suas últimas instâncias para que, em seu devido tempo, todas as perguntas e respostas colidam entre si, causando uma impressão extremamente eficaz em quem assiste. Estar sempre a par da quantidade de conhecimento que uma pessoa tem da história sendo contada é, com certeza, uma qualidade que permite ao filme brincar com os fatos que sabemos e os que ainda estamos por conhecer, enriquecendo ainda mais a obra. A meu ver, Faults tem essa qualidade num nível único. Faltando apenas meia hora para o filme acabar, eu ainda não fazia ideia do rumo que os personagens e o conflito central iriam tomar. Esse foi um dos diversos aspectos que me cativaram ao longo dessa experiência.
Outro atributo impecável do roteiro é a acurácia cirúrgica com a qual a trama trata a questão das seitas: o comportamento de seus membros, bem como os diálogos e pensamentos, foram tratados com uma verossimilhança absurda — e, por isso mesmo, terrivelmente assustadora. Nesse sentido, Mary Elizabeth Weinstead interpretou brilhantemente todas as facetas distintas de Claire e sua posição como membro de um culto. As nuances e consequências que residem sob o caráter da personagem foram muito bem explorados e resultaram num papel excelente da atriz, e um dos mais difíceis, eu diria. Além disso, Leland Orser não poderia ter feito melhor Ansel Roth, o expert em controle mental. Não apenas ele (o personagem) sabe o que se passa nesses grupos, como também tem um conhecimento grande sobre como lidar com as pessoas que participam deles. E o jeito como Orser traduz essas características é mais do que crível, é empático. Se eu me aprofundasse mais nesse assunto, com certeza sairia um spoiler daqui, então vou me limitar a dizer que os dois personagens centrais à trama têm suas personalidades muito bem trabalhadas, tanto individualmente quanto entre si. A atuação jamais deixa a desejar e uma simples troca de olhares entre os dois é capaz de ditar o ritmo da cena, e mudá-lo a seu bel-prazer — o que de fato acontece.
A fotografia é meticulosa e detalhista, coisa que é muito proveitosa num filme como este. Cada escolha de enquadramento é importante e tem seu significado implícito, transmitindo mensagens que, embora não sejam instantânea ou facilmente captadas pelo espectador, fazem pairar em nosso consciente a ambientação e o sentimento que essas escolhas querem nos passar. Existe uma cena em particular, um simples período de dez segundos, que representou uma importantíssima ideia que o diretor quis expor, e eu acho que foi o uso deliberado de um determinado plano mais bonito que eu já notei. Não que isso seja o pináculo da cinematografia, mas ter consciência dessas sutilezas não-verbais nos faz apreciar ainda mais filmes que as sabem utilizar.
Eu definitivamente quero explorar melhor meus pensamentos sobre os aspectos que aqui mencionei e sobre a mensagem do filme, porém, devido à natureza extraordinária do meu apreço pela obra, infelizmente não acho que um texto seja suficiente para que eu me expresse da maneira que desejo. Estou com fortes intenções de fazer um vídeo bem mais detalhado (e recheadíssimo de spoilers) sobre tudo que penso sobre Faults e minhas interpretações e visões pessoais. Quero dissecar esse filme que tanto me fez pensar, discuti-lo mais a fundo e traçar um paralelo com cultos e seitas da vida real. Mas, até lá, essas opiniões permanecerão ocultas. Caso essa iniciativa siga em frente e vire realidade, um link para o vídeo estará disponível aqui embaixo. Senão, acrescentarei aqui a seção "Análise" com as devidas considerações e expondo tudo que quero dizer sobre Faults. Logo em breve, irei reassisti-lo para falar com mais propriedade sobre os detalhes menores do filme e escrever o roteiro do vídeo. Por ora, isso é tudo que tenho a dizer, mas concluo dizendo que poderemos esperar bastante do diretor Riley Stearns, que acaba de lançar seu segundo filme, The Art of Self-Defense, no ano passado. Em palavras mais concisas e diretas, Faults é um filme essencialmente original, de personalidade latente e, falando de uma maneira mais proeminente, tem todo o potencial para se tornar um cult moderno.
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