quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Posfácio #2 - eleanor & park

eleanor & park



  •  Autora: Rainbow Rowell
  •  Ano: 2012
  • Gênero: romance de amor; ficção juvenil


Sinopse:

"Eleanor & Park" é engraçado, triste, sarcástico, sincero e, acima de tudo, geek. Os personagens que dão título ao livro são dois jovens vizinhos de dezesseis anos. Park, descendente de coreanos e apaixonado por música e quadrinhos, não chega exatamente a ser popular, mas consegue não ser incomodado pelos colegas de escola. Eleanor, ruiva, sempre vestida com roupas estranhas e "grandes", é a filha mais velha de uma problemática família. Os dois se encontram no ônibus escolar todos os dias. Apesar de uma certa relutância no início, começam a conversar, enquanto dividem os quadrinhos de X-Men e Watchmen. E nem a tiração de sarro dos amigos e a desaprovação familiar impedem que Eleanor e Park se apaixonem, ao som de The Cure e Smiths. Esta é uma história sobre o primeiro amor, sobre como ele é invariavelmente intenso e quase sempre fadado a quebrar corações. Um amor que faz você se sentir desesperado e esperançoso ao mesmo tempo.

[Sinopse retirada do próprio livro]

Crítica:



Introdução

Esta resenha será menos objetiva que as demais. Consideravelmente menos objetiva. Também será mais difícil de redigir e explicar meus argumentos, mesmo porque a maioria deles virão mais do lado pessoal do que qualquer outra coisa. Primeiro: decidi não dar uma nota. Um simples número não pode fazer justiça com esse tipo de obra. Talvez esta seja uma exceção pontual, talvez seja a rotina. Veremos. Além disso, a estrutura dessa resenha será diferente: não haverá parte de análise, e os spoilers estarão misturados no meio da crítica. Mas não se preocupe! Após mexer um pouco com o código do site, eu escondi os parágrafos de spoiler em caixas pretas. Para ler o conteúdo, simplesmente passe o mouse sobre o parágrafo e a caixa some. Desse jeito, você não corre o risco de ler coisas que não deveria por acidente.


Primeiro, tratemos de referências: eleanor & park é um romance juvenil de 2012, então você pode imaginar que tipo de livro ele é, baseado em outros parecidos da mesma época. Estou falando de John Green e seu A Culpa é das Estrelas e Quem é você, Alasca?, por exemplo. Durante essa época, esses livros mencionados se tornaram muito populares - tanto é que eu não via uma comoção tão grande pelo filme do livro mais famoso de Green desde Crepúsculo. A partir daí, você já pode ter uma noção inicial do rumo que esta crítica irá tomar. Pra começar, vou falar meus problemas com o livro e depois falar porque gosto dele.

Antes de tudo, eu não considero este livro uma obra-prima literária. Na verdade, ele está bem longe disso. Quando eu estava pesquisando mais sobre ele após terminá-lo, descobri que ele foi o primeiro romance de sua autora, Rainbow Rowell. Com isso em mente, consigo entender por que algumas coisas aconteceram de determinada maneira, e também por que outras nem sequer aconteceram. Falta muito para este livro, de fato. Dito isto, eu gostei dele. Gostei bastante. Vou começar apontando os problemas e falhas do livro na minha opinião, e logo depois vou explicar por que gostei dele, apesar de tais problemas.


Meus problemas com o livro

1. Falta de desenvolvimento

Sinceramente, existe muito potencial neste livro. Há aspectos interessantes dos personagens e da narrativa em si que poderiam ser explorados e poderiam adicionar um novo nível narrativo à história. Porém, grande parte desses aspectos permanecem sem serem devidamente desenvolvidos durante o livro. Eu consigo ver o motivo disso. A intenção de Rowell, obviamente, era focar na história de amor entre os dois protagonistas, enquanto haveria outras coisas acontecendo simultaneamente para dar o seu toque original ao gênero. Só que eu acho que não deu muito certo, porque tantas coisas ficaram por dizer e por explorar que, em vez de passar aquela atmosfera misteriosa e enigmática, elas acabaram se tornando vazias e mal resolvidas.


Um grande exemplo disso se encontra no final do livro. Simplesmente não tem nenhuma pista do que poderia ter acontecido com os irmãos e a mãe de Eleanor, depois que ela fugiu para a casa dos tios e deixou a família com Richie. Nenhuma. Zero. Na verdade, pra ser sincero, um dos capítulos finais narrado por Park sugere levemente que a família dela foi embora de lá e o deixou sozinho em Omaha. Eu não acho que tenha sido suficiente, no entanto, dado que uma enorme parte da trama é feita em torno do abuso doméstico e comportamento violento de Richie. Eu entendo que o final deveria ser sobre o relacionamento deles, mas não acho que ignorar os detalhes menores da família dela ajudou.

2. Ritmo

Talvez devido à inexperiência de Rowell com a escrita à época de seu primeiro livro, o relacionamento entre os dois protagonistas se intensifica rápido demais. O andamento é quase inexistente. No primeiro dia, eles se conhecem e logo de cara se odeiam. No dia seguinte, eles já estão pensando na beleza um do outro (não literalmente, mas é bem isso). Sério? Apesar disso não acontecer com muita frequência, às vezes eu ficava perdido e pensando "peraí... eles não eram totalmente estranhos entre si há umas três páginas? O que aconteceu?". Parece forçado, muitas vezes. Como se fosse a própria narrativa empurrando-os um para o outro, e não o amor. E, de fato, é o que ocorre. É uma ferramenta literária que, embora precise ser empregada, produziu uma cadência muito artificial. Felizmente, Rowell conseguiu encontrar e estabelecer um ritmo para o relacionamento dos dois logo após o início do livro. A intimidade deles evolui naturalmente, o que me agradou bastante. Para resumir este ponto, a trama tem dificuldade para encontrar um crescimento orgânico a princípio, mas torna-se mais fluída depois.

3. Final

É desnecessário dizer que haverá grandes spoilers aqui. Se você ainda não leu o livro e pretende fazê-lo, pule esta seção por inteiro. Sério. Antes de ir para a próxima parte, no entanto, aqui vai um resumo do meu argumento principal: algumas das reações - e também ações - dos personagens são, sendo bem eufemístico e no mínimo, irreais. Enfim, vamos adentrar meu pequeno discurso sobre o final.


Meu problema aqui é logo depois da cena em que Eleanor e Park fazem sexo no Impala e Richie descobre a verdade sobre Eleanor. A reação dos pais de Park, especialmente do pai, é surpreendentemente surreal pra mim. Permita-me ajudar na visualização da situação: você pega o seu filho saindo de fininho da sua casa às duas da manhã, porque ele precisa ajudar a namorada. "Como ele pode ajudá-la?", você pode se perguntar. A resposta é simples: dirigindo até a porra de Minnesota no seu carro. Ele diz que estará de volta em um ou dois dias e explica brevemente a superfície da situação da família da namorada. Como você reagiria a isso?

Veja, eu consigo absolutamente ver o pai de Park deixando ele ir, até porque eu acho que ele entenderia o tipo de sacrifício que Park estava disposto a fazer. Ele provavelmente já teria tomado decisões mais difíceis na vida dele, afinal de contas, e conseguiria se identificar com o filho. Mas a única coisa que ele disse pro filho naquela ocasião foi que ele deveria dirigir a caminhonete (porque o carro era de câmbio manual). Sério mesmo, Rowell? Pelo menos me dê alguma coisa mais confrontante. O pai de Park já estava puto com ele desde antes, ele deveria estar "mas que caralhos você pensa que está fazendo?". Esse é o próprio clímax do seu livro, tudo que foi escrito nos últimos dois ou três capítulos construiu a tensão que levou a isso. Me dê uma discussão de verdade entre eles dois. Deixe Park realmente lutar por Eleanor e ajudá-la. Faça ele realmente ter medo da possibilidade de deixá-la sozinha no meio da rua na madrugada, enquanto Richie ronda a cidade para pegar ela. Jesus, até mesmo eu teria argumentos melhores que o pai de Park. Coloque um peso de verdade nesse último e importantíssimo diálogo, e não essa conversinha mole, sem sal, totalmente irreal e meia-boca. Sério, o diálogo entre eles tem 0% de resistência.

Apesar disso, eu não tenho muito problema com o final em si, diferentemente do que muitas pessoas têm.

Por que eu gostei

Apesar de apontar muitas falhas e erros desse livro, eu gostei muito dele, de verdade. O principal motivo pra isso é porque bateu fundo em mim. Eu me identifico e simpatizo fortemente com Park. O romance dele com Eleanor é estranhamente semelhante a um dos meus, quando eu era da idade dele. Não em um nível detalhado e específico, é claro, mas o caminho principal que a história deles tomou foi quase igual à minha. Dito isso, é extremamente fácil deixar de lado todas essas falhas quando se está tão engajado na história deles. Eu não pude evitar torcer por eles - já que, no fundo e implicitamente, eu estava torcendo por mim mesmo e pela garota que eu amava naquela época. Eu estava tão interessado em saber como eles continuariam vivendo a vida deles que eu devorei a metade final do livro em uma tarde só. Mais que isso, o livro todo só durou dois dias nas minhas mãos, e isso porque eu fiquei ocupado nesse meio-tempo. Como você pode ver, ele provocou muitos sentimentos. O final, por exemplo, me atingiu muito forte. Muito forte. Assim como Park, eu estava sempre prestando atenção aos detalhes e às coisinhas de Eleanor. Foi como se apaixonar pela primeira vez de novo. Não porque foi bem escrito e preciso, mas porque foi muito muito parecido comigo. Nem todo livro consegue evocar sentimentos dessa maneira, e isso certamente contribuiu bastante pra minha opinião geral.

Além disso, o livro fez eu me sentir MUITO nostálgico. Eu tenho só 19 anos, então não estou falando das referências aos anos 80 que existem ali. Eu estou falando dos meus dias de ensino médio. Não foi há muito tempo, mas algumas experiências por que passei parecem ter sido há séculos. E nostalgia provoca a morte instantânea do meu senso crítico (pelo menos enquanto lendo). Pra dar uma perspectiva, eu li os capítulos finais escutando Snow Patrol em loop no meu celular (porque seria o equivalente nostálgico das bandas de punk rock de Park. Inclusive, muito boa banda, esse Snow Patrol. Vão ouvir, é bem early 2000s vibes).


Outra coisa, mais como uma nota adicional: eu me identifiquei totalmente com Park no episódio do delineador. Eu estou descobrindo uma parte similar minha apenas agora, e foi muito legal ver como ele e seus pais lidaram com a situação; eu só gostaria que os meus fossem tão compreensíveis quanto os dele. Enfim, fiquei feliz que a Rowell trouxe esse incidente de um jeito leve e natural. Honestamente me ajudou, de certo modo. Por outro lado, assim como outras coisas, isso infelizmente caiu na esfera de "arcos menores não desenvolvidos".

Conclusão

Existem sim várias falhas neste livro. É um romance de estreia e, como tal, reflete a imaturidade literária da autora. Perguntas permanecem sem resposta, histórias secundárias permanecem sem exploração posterior, quase parece "filocêntrico" (gostaram do neologismo? Quis dizer que tudo giraria em torno do amor). Contudo, minha experiência pessoal e ressonância com o protagonista me permitiram curtir este livro como um verdadeiro adolescente, revivendo algumas das minhas mais íntimas memórias de um jeito tão vívido que seria impossível não gostar da história. Como eu já disse no meu texto "A importância de livros triviais" - que você pode ler clicando neste link -, eu acredito que a maioria de nós precisa de livros como este de tempos em tempos. É um dia de folga, é um tempo da complexidade. Um suspiro de descanso das nuances abstratas da Literatura. Adicionalmente, ele me fez ganhar de volta meus hábitos de leitura: eu li as 286 páginas em apenas dois dias. Isso com certeza é um grande feito, tanto para mim quanto para o livro.

Obrigado por ler esta crítica até aqui!
Se quiser, siga-me no Goodreads: www.goodreads.com/gabesness

Nenhum comentário:

Postar um comentário