- Crítica anterior: O Lagosta (The Lobster)
Annabelle Comes Home (Annabelle 3: De Volta Para Casa)
Ficha técnica:
Ano: 2019
Gênero: terror, suspense
Direção: Gary Dauberman
Duração: 106 min (1h46)
Sinopse:
O casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren mantêm a boneca Annabelle trancada em um cômodo especial em sua casa. Ao sair em viagem, eles deixam sua filha Judy aos cuidados de uma babá. No entanto, uma série de eventos acaba por libertá-la, que passa a assolar a filha do casal e suas amigas, junto de outros espíritos malignos.
Crítica:
Nota: 7/10
Filmes de terror têm uma grande inclinação de cair no clichê e numa execução preguiçosa e nada original. Não é tão difícil assim assustar as pessoas. Foi o caso de A Freira, filme que vi no cinema, assim como este. A diferença é que A Freira não serve nem para dar sustos. Porém, Annabelle 3 consegue superar as fórmulas prontas de terror e a supérflua cultura do jumpscare. Em vez disso, o filme aposta numa abordagem mais inteligente para estudar e explorar o medo do público. E o tiro é certeiro: a direção é capaz de criar uma atmosfera de tensão, não apenas ao redor da boneca como do próprio conceito do quarto de artefatos. A fotografia é abafada e claustrofóbica, fazendo-nos imergir e nos colocando no mesmo cômodo que os personagens. Além disso, o design de som foi muito bem aplicado e projetado. Por mais que eu não acredite no sobrenatural, por exemplo, é impossível não se assustar com Annabelle Comes Home e sentir toda a tensão e desespero que perfuram as personagens.
Talvez uma característica não tão boa em minha opinião seja a exposição em demasia dos espíritos e criaturas, porque eu, particularmente, prefiro um estilo de terror que não revela muito sobre o antagonista ou o "mal" dominante do filme. Também há cenas com o humor típico de filmes de terror mais anos 90, mas, a meu ver, é um humor que se encaixou na proposta da narrativa. Em suma, Annabelle 3 é um filme de terror com um estilo característico e de ótima qualidade, apesar de, talvez, ficar atrás de seu antecessor. O segredo para o sucesso de um bom filme de terror é saber superar o lugar-comum tão presente nesse gênero. E o suspense afiado e a poderosa ambientação sonora de Annabelle Comes Home mostram, de fato, que o filme passa longe disso.
Análise:
(Aviso: contém spoilers)
Logo de cara o filme nos passa uma sensação de segurança e nos estende uma mão, com a presença reconfortante do casal Warren. Com eles, tudo está sob controle e a paleta de cores é quente, aberta, acolhedora. No entanto, esse sentimento não tarda a passar quando descobrimos que o casal sairá em viagem e deixará a casa e a filha Judy aos cuidados de uma babá. Ela parece ser responsável, porém, sua amiga, que também acaba entrando na casa dos investigadores, não passa a mesma visão. Assim que pode, ela deixa claro que seus interesses estão inteiramente voltados para a sala de artefatos malignos, e faz o possível para entrar lá.
Na minha opinião, está aí um dos pontos fracos do filme: a motivação dessa personagem. Tudo que ela pretendia era entrar em contato com o espírito de seu falecido pai, devido ao fato de ela se culpar por sua morte. Por isso, ela acabou por libertar as entidades maléficas da sala dos Warren. Não que eu acredite que isso é um motivo fraco ou sem importância. Acho, inclusive, uma causa bem verossímil. O problema é que não acho que foi bem desenvolvido. Pareceu-me solto, talvez pudesse ter tido uma explicação melhor para que pudéssemos nos identificar com a personagem. Contudo, como se trata de um filme de terror, geralmente se usa esse tempo para desenvolver a relação dos protagonistas com o mal, ou para a antecipação da catástrofe - e, evidentemente, foi o que aconteceu. A explicação dos motivos da personagens foram imediatamente seguidos da apresentação e introdução de Annabelle e dos demais espíritos. Entretanto, isso não é algo que prejudique a história como um todo, apenas consiste numa fraqueza pontual.
Finalmente, fica aqui meu elogio à originalidade, não apenas deste filme, mas também da franquia Invocação do Mal como um todo. É possível identificar, sem dificuldade, o estilo cinematográfico dos filmes sobre a Annabelle. O modo com que a boneca é retratada e o misticismo e a repressão espiritual construídos ao redor de sua existência são atributos próprios desta trilogia. Essas qualidades dão aos filmes da franquia - e à franquia como um todo - uma personalidade forte. Neste filme especificamente fica nítida a busca pela identidade a partir da ideia de dar vários "humores" à casa do casal. Ela incorpora a aura maligna que se espalha pelas paredes, pelas escadas, pelos quartos... isso reforça ainda mais a proposta de que o mal contido procura incessantemente um vetor para sua subsistência, coisa que toda a trilogia vem sugerindo e que agora aparece com todo o impacto e toda a maldade com que Annabelle está disposta a atacar.
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