o mar
Sabe, como escritor, sempre chegam pontos na vida literária quando a gente começa a se questionar um pouco sobre a validade dos nossos esforços e a proporção com a qual eles serão recompensados. Eu, por exemplo, adoro livrarias e bibliotecas. Mas era inevitável pensar na quantidade enorme de livros diferentes naqueles lugares, e no fato de que os que eu viesse a publicar, algum dia, seriam só mais um dentro daquele universo gigante. Sem quase nenhuma relevância para a maioria esmagadora de clientes do estabelecimento.
É mais ou menos como me sinto em relação ao universo em que vivemos. De fato, somos insignificantes comparados a tudo que existe, mas, a meu ver, tem uma diferença essencial nesses dois casos. Nós não nascemos com um propósito específico. Ninguém nasce para algo. No entanto, a beleza de se viver está justamente em se dar um sentido, em tornar sua vida em algo que valha a pena relembrar setenta anos lá na frente. Já os livros são feitos com um propósito intrínseco - serem lidos. Claro que há o objetivo de satisfação pessoal de seus autores e autoras, entretanto, ninguém pode negar que o fim último de uma obra literária é atingir leitores, impactar pessoas, penetrar vidas. Não tem coisa melhor que ver alguém falando como um livro lhe causou mudanças de pensamento e comportamento. Contemplar esse poder é o grande sonho de todo escritor. Meu, inclusive.